sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Daqui alguns dias esse blog faria aniversário de 1 ano sem postagens! Ou seja: um ano que morreu. O ressuscito hoje por uma espécie de masoquismo.
Quem torna o ato de escrever uma necessidade quase fisiológica por um período, quando deixa de escrever sofre indiscutivelmente. É como se parássemos de cagar.
Para amenizar a perda, deixamos de absorver coisas que nos levam a escrita, ou passamos a ignorar essas coisas. Deixa-se de viver para simplesmente existir. Ninguém escreve sobre o trânsito, os carros ao seu lado, as motos passando, exceto se isso compuser uma cena surreal. Do contrário, aquilo é o dia-a-dia, o cotidiano... o inevitável. Deixar de viver e passar somente a existir é ir pelo caminho do inevitável.
Escrever é justamente o enfrentamento, o combate com o inevitável.
*********
Um dia eu estava no metrô, e vi uma cena digna de filme do Almodóvar:
Um casal de cegos estava namorando no meio daquele corre-corre próximo a catraca. Pessoas indo pra casa, pra faculdade, pro shopping... e eles dois de frente um pro outro, como quem se olha nos olhos. E por serem os olhos o espelho da alma, mesmo cegos, acredito que era isso que eles faziam.
Um segurava a mão do outro, e com a outra mão cada um segurava a guia de seu cão labrador, que fazia então o papel de olhos. Os cães se cheiravam felicíssimos, rabos abanando e as patas quase arrastando os donos pra longe dali. Acredito que eles tenham parado para deixar o tumulto passar, posto que poucas pessoas os enxergariam.
Quando eu vi essa cena meu mundo parou por alguns segundos. Achei aquilo de uma beleza sobrenatural. Poesia pura e real.
Isso faz muito mais de 1 ano. Desde então vi poucas coisas parecidas.
Foi eu ou o mundo que mudou?

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Automação e Lazer

O avanço da tecnologia fez das indústrias um complexo de esteiras e robôs, onde a interferência humana se faz de forma mais técnica, distante do apertar de parafusos do personagem de Chaplin em Tempos Modernos. Isso fez surgir, dentro do processo de produção, uma demanda por profissionais com conhecimentos técnicos, aptos a identificar problemas e corrigir pequenas falhas de processo.



Com isso, o uso da força física do homem foi sendo substituída pelos Cavalos dos motores elétricos, e a necessidade de ficar repetindo um mesmo movimento foi suprida por rotinas implementadas em Controladores Lógicos Programáveis (CLPs). Num primeiro momento isso causou desemprego, mas o que estamos vendo hoje é a busca por especialização e o respeito pelos profissionais mais dedicados. Em diversas indústrias eu conheci alguns “Zés” que dominam todo o processo de produção, orientam programadores, corrigem falhas etc. Essas pessoas mal concluíram o Ensino Fundamental e hoje são avaliadas pela competência, o que as torna valorizadas pelo mercado; ganham bem por pensarem, não pelo uso de força bruta.
Como profissional da área Automação e sobretudo como humanista, me sinto orgulhoso do que está acontecendo. É óbvio que um gestor quando contrata um serviço de automação não pensa nisso. Pensa em reduzir custos, produzir mais em menos tempo. Mas estamos diante do que Gilberto Freire profetizou em 1966, numa conferência na UnB: “Dentro de uma civilização automatizada – uma civilização pós-moderna – desaparecerá segundo os melhores indícios sociológicos, o atual antagonismo capitalista-trabalhador para se estabelecerem novas formas de relações entre os homens. E o problema central para esses homens – inclusive para os brasileiros, cuja presença no mundo próximo ou futuro, vários futurólogos antevêem como importante – o maior desafio à sua inteligência, ao seu gênio, à sua ciência, à sua arte, à sua técnica, não será o da organização do trabalho mas o da organização do lazer”¹.
A organização do lazer é uma das formas de Serviço, que, junto com a comercialização de produtos, compõe o Setor Terciário. No Brasil, entre 1970 e 2005, a taxa de participação do Setor Terciário entre a população economicamente ativa subiu de 38% para 58%, e corresponde hoje a 57% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, conforme balanço do IBGE feito em 2005. Em países desenvolvidos a participação é de 70%, em média.
Por isso acompanhamos a proliferação de salões de beleza, buffets, escolas de idioma, de música, agências de turismo etc. Os setores Primário (extração de matéria prima) e Secundário (indústria) continuam precisando de mão de obra, mas esta agora é mais especializada, em menor número e conseqüentemente mais bem remunerada. Fora disso surge espaço para novos empreendedores, novos profissionais e “novas formas de relação entre os homens”. A sociedade está mudando.

Obra Citada: FREIRE, Gilberto. Seleta para Jovens. Rio de Janeiro, 1971. Editora José Olympio.

Economia

Até meus 6 anos, a palavra economia significava contar a quantidade de bolachas que cada um comeria no café da tarde. Eu tinha um primo que economizava: guardava um pouco pra comer depois; eu comia as minhas e queria comer as dele.
Depois veio o dinheiro, e meu primo também economizava: guardava num cofrinho pra comprar uma coisa bem bacana, mas ninguém sabia o que era. Eu comprava um pacote de bolachas e dividia com todo mundo.
O plano real surgiu e eu tinha 9 pra 10 anos; foi então que conheci uma outra economia que não era bolacha nem dinheiro de verdade (embora tivesse alguma relação com este que eu não compreendia muito bem). Deixei pra lá quando tentaram me explicar por que o ministro da fazenda tinha a ver com tudo isso. Fazenda?
Muito depois vieram os gráficos, a oferta, a demanda e Cia. Nada de bolachas e uma referência quase poética ao dinheiro – digo poética por que o dinheiro para os economistas é como o amor do poeta: a gente sabe que ele ama, sofre e chora... mas será que aquela mulher existe? Ou melhor: aquela mulher sabe que ele ama, sofre e chora?
Aí veio essa crise econômica de hoje, que já consigo entender melhor: meu primo, e um monte de gente igual ele, resolveu vender o cofrinho fechado, sem ver quanto tinha dentro. Todos sabiam que era muito, por que dava pra comprar uma coisa bem bacana. E o cofrinho foi passando de mão em mão, de banco em banco, até que resolveram abrir o cofrinho.O banco que abriu viu que o que tinha dentro era bolacha. Meu primo comeu o dinheiro!!!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Ledo engano

Não sei do que eu quis me livrar quando criei este blog. Num primeiro momento, eu tive a necessidade de separar o emocional do racional - ao menos essa era a justificativa ensaiada.
De uma certa forma, eu queria blindar alguns sentimentos e algumas lembranças. Me fechar, talvez.
E escrevi também que era "pra me sentir útil, ou tornar útil minha verborragia: se esse blog der certo, se os assuntos fluírem, vou torná-lo parte de meu currículo".

"Pois como poderia eu dizer sem que a palavra mentisse por mim? como poderei dizer senão timidamente assim: a vida se me é. A vida se me é, e eu não entendo o que digo. Então adoro".
Clarice Lispector

Alguém que usa uma frase da Clarice Lispector pra dizer o que sente, não pode querer separar o emocional do racional.
Este blog é uma farsa.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Raison d'ego...

Talvez seja uma grande falha minha, mas tenho a sensação de que até hoje nunca trabalhei para uma empresa, mas sim para indivíduos. Num primeiro momento, numa empresa dita familiar, administrada mal e porcamente pelo filho caçula, sem educação (em todos os sentidos) e mimado. Depois, para um empreendedor nato: um cara jovem, de boa formação acadêmica, boas idéias, sucesso em ambientes corporativos, hoje de saco cheio de ter patrão (socialmente um estereótipo: jovem, separado, SUV, jeans, sapatênis e camisas “descoladas”, habitué de academias e esportes da moda).
Imagino que muitas possam ser as opiniões contrárias ao que eu disse: sempre trabalharemos para indivíduos, sejam eles os chefes, gerentes, presidentes etc. E tem os mais idealistas também: você não trabalha para fulano ou sicrano, mas para você mesmo, sua família, seus sonhos, blábláblá...
Não era isso que queria dizer.
Na minha visão, existe a possibilidade de trabalhar para uma marca ou uma idéia. Quando trabalhamos para o dono diretamente, dependemos da opinião e do humor daquela pessoa. Eu sou uma pessoa extremamente simbiótica: as empresas em que trabalhei eram representantes de marcas multinacionais, e eu queria incorporar a bandeira que estampávamos no cartão de visita. Na minha visão não fazia sentido utilizarmos coisas de outros fabricantes dentro da nossa empresa... Mas a empresa é dele, e a ordem é economizar.
Tenho dois exemplos, o primeiro não sei se é um mito: só é permitido aos funcionários da Volks estacionar no trabalho carros da própria Volks. O outro eu vivi: a empresa em que hoje trabalho é integradora de uma multinacional na área de eletricidade e automação. Alugamos um escritório maior, e neste escritório toda a parte elétrica era fornecida pela concorrência; eu quis de imediato trocar tudo pelo nosso produto. Mas não existe nosso produto; existe a empresa dele.
Trabalhar para o dono da empresa e não para a empresa pressupõe duas regras básicas: a dependência do humor daquela pessoa, e a redução de custo, custe o que custar (mesmo a razão do cliente vem depois da razão dele).

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O Google bloqueou meu blog!!!

O Google sabe mais de nós do que nossa própria mãe. Eles têm vídeos (youtube), fotos (picasa e orkut), informações pessoais (gmail e orkut), opiniões (blogspot), um navegador de internet (chrome), ensaiam um sistema operacional baseado no linux (goobuntu), um sistema operacional para celular (android), emprestam sua plataforma de mapas (google maps e google earth) para sistemas de posicionamento globais (GPS) e mais uma série de outras coisas que sequer imaginamos.
Eles podem saber de tudo: os assuntos que pesquisamos, as pessoas que procuramos, os lugares onde estivemos, estamos e queremos estar. Isso às vezes me apavora!!!
Eis que num belo dia recebo uma mensagem assombrosa no meu e-mail: meu blog foi identificado como inimigo ("a potential spam blog"); digo inimigo porque o spam é a delinqüência na internet. Li e reli a mensagem em inglês, olhei o link, imaginei que fosse vírus, mas o endereço batia certinho. Cliquei:
“Os robôs de prevenção contra spam do Blogger detectaram que seu blog possui características de um blog de spams. (O que é um blog de spams?) Uma vez que você está lendo esta seção, seu blog provavelmente não é um blog de spams. A detecção automática de spams é inerentemente confusa. Pedimos desculpas por este falso sinal positivo.
(...) Em nome dos robôs, desculpamo-nos por bloquear seu blog..."
Agora durma com um barulhos desses!!! Robôs passam a "vida" (ai meu Deus, robôs com vida!) fuçando o que você anda fazendo, e da noite pro dia você pode ser transformado num spam!!!
Faço login no Google diariamente, seja para fuçar no Orkut, ler e-mails, ou postar algo no blog. No mais, esse é meu quarto blog, sendo que pelo menos 1 deles tem mais de 100 postagens, e é usado desde 2005!!! Boa parte de minha vida está descrita ali. Que diabos esses robôs “imaginaram”? (e a idéia de um robô imaginar algo já é por si só apavorante, não é?)

“Inerentemente confusa...”

Minha vida é que é inerentemente confusa!!!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Minha Formação

Nasci num pólo industrial (Cubatão), e desde criança fui orientado ao mercado em torno das indústrias. Descobri o mundo da Cultura um pouco tarde, no primeiro ano do Ensino Médio, e li nesse período mais do que muita gente lê na vida toda; e li de tudo: literatura brasileira, americana, russa, poesia de todo canto, filosofia de todo tempo... No entanto conseguia ler e adolescer – nunca fui NERD, ainda que me chamassem de “filho do Abmael” - o professor de Literatura que fez eu me apaixonar por livros. Eu tocava violão, organiza pequenas rebeliões, estava sempre cercado de uma galera muito saudável, e se perguntassem o que mais fazíamos, diria sem duvidar: ríamos.
No final do segundo ano, entre os realistas e parnasianos no livro de Literatura do José de Nicola, prestei vestibular para o curso Técnico em Automação, na Escola Técnica Federal (hoje CEFET). Na minha cabeça aquilo era só um teste; não tinha um fim específico; eu não tinha sonhos com o mundo da Automação. Aliás, que diabos era Automação?
Acontece que eu passei em 13° lugar... e minha sábia mãe disse:
- Agora que passou, vai fazer.
- Mas mãe, não é isso que quero fazer...
- E você vai fazer o quê? Eu não tenho condições de pagar sua faculdade. Seu pai... – então ela faz aquele gesto de desdém impossível de descrever.
Na verdade eu não sabia bem o que queria fazer. Gostava de Literatura, gostava de escrever... pensava em Filosofia, Jornalismo, Letras... Eu ainda tinha 1 ano pra decidir! Mas ouvi a minha mãe, e não me arrependi.
Tempos depois li em Antonio Gramsci, num texto de 1916:

O proletariado, que está excluído das escolas de cultura média e superior por causa das atuais condições da sociedade... tem de ingressar nas escolas paralelas: técnicas e profissionais. [Estas escolas são] em grande parte, uma repetição inútil das escolas clássicas, bem como um inocente desaguadouro para o empreguismo pequeno-burguês. As taxas de matrícula em contínua ascensão, assim como as possibilidades concretas que dão para a vida prática, fizeram também delas um privilégio e, de resto, o proletariado é excluído, automaticamente e em sua grande maioria, por causa da vida incerta e aleatória que o assalariado é obrigado a viver; vida que, seguramente, não é a mais propícia para seguir com proveito um curso de estudos.”
(Homens ou Máquinas in Textos Políticos Volume I)

Fiz em paralelo o último ano do Ensino Médio e o primeiro do Técnico, e tudo ainda era diversão. Como eu sabia que era o fim de uma fase, cortei meu cabelo estilo moicano, quando isso era uma aberração. De certa forma, consciente ou não, fui me despedindo de minha infanto-juventude.
Assim que terminei o E.M., meu pai conseguiu um estágio pra mim. Uma empresa de 4 pessoas: um funcionário, um estagiário e dois donos. Embora fosse uma empresa minúscula, um chefe incompetente e o filho dele que além de incompetente era maconheiro, eu aprendi muito, seja por força de vontade (lia manuais com a voracidade que antes lia poesia), seja pela amizade de meu companheiro de trabalho Zé, que me ensinou muito do que sei hoje. Detalhe: o Zé é semi-analfabeto, mas tinha uma inteligência fenomenal. Quando eu ficava meio ansioso com minha situação, dizia: se acalme... dias melhores virães (sic)!!!
Observação: o estágio era em São Bernardo do Campo e eu cursava o segundo e último ano do técnico em Cubatão, no período noturno.

Nesse primeiro e único ano de estágio passei pela montagem, projeto e orçamento de Quadros Elétricos. Modéstia a parte, adquiri muito conhecimento, o que me rendeu emprego numa empresa para a qual prestávamos serviço. Meu primeiro registro em carteira foi um ano após me formar um Técnico (citar Gramsci).
De certa forma me encantei com a área de Automação. Com pouquíssimo tempo de serviço eu já era “chefe” de todo um setor (por “chefe” entenda aquele indivíduo que faz de tudo um pouco, sem ganhar o suficiente pra isso – o que é absolutamente diferente de um gerente). Isso fez com que eu encarasse o curso de Engenharia. Não passei do segundo semestre...
O curso de engenharia, pra alguém que trabalha na área, é um porre. Pelo menos para mim o foi. Só números, contas, cálculos, e nada de realidade técnica, prática. Mais pra frente pretendo expressar minha opinião sobre os cursos de engenharia de hoje em dia.
Parei a engenharia e fui cursar Relações Internacionais. Essa mudança de curso envolve um pouco de fatores muito pessoais, o que não faz parte da proposta deste blog. No curso conheci gente fantástica, e vivi um período igualmente fantástico. Tive que parar por problemas financeiros (por ‘problemas financeiros’ entenda ‘incompetência para administrar as próprias finanças’). No entanto, foi lá que tive uma “Introdução ao Direito”, e ouvi da professora que eu tinha era que fazer Direito.
Tempos depois surgiu a oportunidade: agora ia fazer direito! Me matriculei na Unicsul (um lixo de faculdade), me transferi para a Uninove (um pouco melhor) e pretendo mudar de faculdade mais uma vez, mas não pretendo abandonar o Direito.
Hoje enxergo a necessidade de adquirir mais conhecimento na área de gestão, marketing, vendas e ir sempre atualizando a Elétrica e a Automação. Mas não tenho vontade de fazer um curso de graduação em nenhuma dessas áreas. São coisas sobre as quais pretendo escrever depois.